Entrevista a Pedro Lopes

1 - Qual o motivo que te levou a abraçar a vertente de futsal na arbitragem?

- Em 2001 tirei o curso de árbitro de futebol de 11, e em 2002 por motivos pessoais fui viver para Chaves e pedi transferência para a Associação de Futebol de Vila Real. Rapidamente me apercebi que naquele distrito a vertente futsal estava muito desenvolvida. Comecei então a frequentar o núcleo de árbitros de futsal da cidade de Chaves, e comecei a fazer alguns jogos em torneios realizados na cidade. Foi assim que comecei a viver o futsal.
Costumo dizer que no futebol 11 uma equipa é constituída por onze jogadores, e que dependendo de onde a bola se encontra apenas 4/5 jogadores estão realmente a intervir no jogo, enquanto que no futsal desde o incio do jogo até ao final, todos os jogadores de ambas as equipas estão constantemente a intervir, não podendo descuidar-se por um único momento. Não esquecer que a incerteza do resultado do principio ao fim torna o futsal muito mais emotivo do que o futebol 11.


2 - Consideras que 2009/2010 foi a tua melhor época? Porquê?

- Sem dúvida. Desde que tirei o curso de futsal (época 08/09) que o futsal passou a ser a minha prioridade a nível de aprendizagem e obtenção de conhecimentos, e quando após o começo desta época me foi comunicado que poderia este ano ser candidato no futsal, desde então a nível desportivo passei completamente a viver só para o futsal. Foi uma época em que trabalhei bastante em todos os aspectos para poder melhorar o meu desempenho jogo após jogo. Foi uma época que terminou com a minha ida a prestar provas a nível nacional, mas caso tivesse sido outro colega seria na mesma uma época marcante, pois esforcei-me muito ao longo da época e penso que quando assim é temos sempre que ficar satisfeitos connosco mesmos.


3 - Qual ou quais os momentos que mais te marcaram enquanto árbitro?

- Houve uma situação a época passada que me marcou. Fui nomeado para o jogo entre a Casa do Benfica de Évora e o GDM, referente ao Campeonato de Seniores Femininos, jogo este num Domingo às 11h. Tinha trabalhado a noite toda de Sexta para Sábado, no Sábado à tarde tive jogo em Vendas Novas, futebol 11 e à noite futsal seniores masculinos. Na manhã de Domingo o que aconteceu foi que quando acordei já eram quase 13h... faltei ao jogo, o jogo realizou-se na mesma e vim mais tarde a saber que tinha havido algumas quezílias entre jogadoras de ambas as equipas. Situação esta que depois motivou alguns comentários por parte de um dirigente de uma das equipas. Uma situação bastante chata.
Sem dúvida toda esta época, e em especial um jogo que apitei em Mora entre o Núcleo de Mora e o ÉvoraFutsal, jogo muito bem disputado e com muita emoção, incerteza no resultado até ao final e com muito público.


4 - Quais as maiores dificuldades que tiveste que enfrentar para conseguir, esta época, prestar provas a nível nacional?

- Talvez a maior dificuldade tenha sido mesmo o facto de haver poucos árbitros no futsal, o que fazia com que na maioria dos fins-de-semana tenha estado nomeado para apitar 5 jogos por fim-de-semana, isto obrigava a um grande desgaste, tanto a nível físico como psicológico. Cheguei mesmo, por vezes, a sentir dificuldade em me concentrar a 100% durante o decorrer de alguns jogos .


5 - As provas de acesso ao quadro nacional foram mais fáceis ou mais difíceis que aquilo que pensavas?

- A nível teórico sentia-me muito bem preparado, pois vinha de 1 mês em que tinha passado grande parte dos dias (e não só, pois por vezes enquanto dormia dava por mim a sonhar com leis, perguntas e respostas sobre futsal) sempre a estudar. Tive também aqui a grande ajuda dos amigos Leonel Craveiro e Bento Marques, que sempre estiveram disponíveis para me ajudar no que fosse preciso. A nível físico como já disse anteriormente estava a terminar uma época muito desgastante e não me sentia muito bem, inclusive com algumas mazelas de excesso de esforço físico, tentando aproveitar as duas semanas antes para tentar recuperar, fazendo treinos mais leves.
Quanto ao teste escrito achei que havia muitas perguntas em que tínhamos que dar uma resposta para várias situações, e poucas perguntas com resposta directa. O que fez com que o tempo não me chegasse para responder como queria nas últimas perguntas.
Chegada a hora da prova física, senti que aqui mais que o grau de dificuldade da própria prova era importante estarmos bem psicologicamente, sentindo-me um pouco em baixo. Foi ai que foi importante sentir o apoio da presença do presidente do Concelho de Arbitragem e de um membro da Comissão de apoio técnica.
No geral, o grau de dificuldade era o esperado, pois já tinha sido avisado por colegas que já anteriormente tinham prestado provas.


6 - Qual o teu objectivo para a próxima época?

- Tenho a consciência de que a próxima época vai ser muito difícil, mas tenho como grande objectivo conseguir a manutenção a nível nacional. Vai ser o continuar de um projecto a nível pessoal e, trabalhando cada vez mais, espero conseguir.


7 - No teu ponto de vista, o que está bem e o que está mal na arbitragem do nosso distrito, nomeadamente a nível de futsal?

- Penso que não vale a pena estarmo-nos sempre a lamentar como habitualmente temos por norma fazer. Tem-se vindo a notar uma evolução no que toca às condições dadas aos árbitros para apitarem os jogos, nomeadamente no meu primeiro ano de futsal apenas os jogos do Campeonato de Seniores Masculinos eram apitados por dois árbitros, os restantes apenas com um, o que dificultava muito mais e prejudicava o normal desenrolar do jogo. A época passada começou-se a realizar jogos com uma dupla de arbitragem começando no escalão de juvenis. Houve também um esforço por parte do concelho de arbitragem no que tocou ao envio de um membro da comissão de apoio técnica para observação de alguns jogos e respectiva análise ao jogo juntamente com a equipa de arbitragem após o final deste.
Na minha opinião a arbitragem de futsal teria muito a ganhar se conseguissemos ter um quadro só de árbitros de futsal, talvez com o aparecimento de novos valores para a arbitragem de futsal Eborense o venhamos a conseguir.
Creio estarmos no bom caminho, mas para podermos continuar a evoluir precisamos de sentir mais apoio por parte da Associação de Futebol de Évora, não só de árbitros mas também de clubes e o próprio concelho de arbitragem, pois sei que por vezes ao longo da época também lhe são apresentados entraves no que toca à realização do seu trabalho. Isto para uma boa implementação e desenvolvimento do Futsal.


8 - Quais as principais dificuldades para se conseguir ser árbitro? E quais as motivações que te levam a seguir nesta actividade?

- Penso que hoje em dia a principal dificuldade para que os jovens se iniciem na arbitragem seja mesmo a questão de nós árbitros nos ter-mos que colectar para podermos passar recibos verdes. Não estou muito por dentro do assunto mas quanto sei, a questão da colecta pode trazer muitos inconvenientes aos jovens que são estudantes.
Depois devido ao facto de o concelho de arbitragem dispor de poucos árbitros, acontece que por vezes, e isto aconteceu com o colega com o qual fiz dupla esta época, os novos árbitros que deveriam iniciar-se pelas camadas jovens, escolas, infantis e sucessivamente, comecem logo a apitar jogos de seniores passado pouco tempo de tirarem o curso. Esta situação não é boa para nenhum dos intervenientes e por vezes faz com que muitos jovens desistam.
Actualmente além do enorme gosto que tenho pela modalidade, apresentei a mim mesmo um projecto pessoal pelo qual tenho lutado e trabalhado desde o momento em que tirei o curso de árbitro de futsal.


9 - Nesta ultima questão, que fica ao teu inteiro critério, deixa um comentário/opinião/sugestão aos leitores, que incluem árbitros, jogadores, dirigentes e adeptos de futsal, deste blog.

- Para bem da modalidade no nosso distrito temos visto uma boa evolução, a qualidade do futsal praticado pelas equipas tem evoluído, o trabalho na formação também tem sido muito bom, a nível de arbitragens também se notou uma evolução e um querer por parte dos árbitros em mostrar que estão ai para aprender e ajudar a modalidade a consolidar-se. É com bastante agrado que começamos a presenciar jogos com mais público a puxar pelas suas equipas.
Clubes e árbitros estão dispostos a continuar a trabalhar, mas é preciso sentirmos por parte da Associação um querer em que o Futsal continue a evoluir, e para que isso aconteça situações como algumas que presenciámos esta época não podem tornar a acontecer.